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Muitas mulheres ao se verem grávidas começam a buscar informações e se deparam com muita coisa diferente em relação aos tipos de parto. Parto normal, cesárea, humanizado, de cócoras, na banheira, em casa… e por aí vai.

Esclarecendo

Basicamente, existem duas vias de nascimento: a cirúrgica (cesárea) e a vaginal (normal).

As dúvidas surgem quando se encontra dentro do parto normal diversos subtipos (humanizado, natural…). 

Mas, independente desses subtipos, o que deve ser considerado são os desejos e vontades da mulher, dentro do que as evidências científicas mostram de melhores resultados, isso seria um parto respeitoso, ou o tal do parto humanizado.

O Parto Humanizado não é um modelo de parto com um checklist a ser preenchido, mas sim uma filosofia, onde o protagonismo da mulher é uma das partes mais importantes, bem como o uso de evidências científicas para que sejam tomadas as melhores decisões para aquele caso especificamente.

Isso quer dizer que a mulher deve escolher o que ela quer para o parto dela, mas se baseando em informações de qualidade. Costumo brincar que a mulher deve escolher a posição que ela quer parir, mas se ela escolher parir de ponta cabeça, o que é super contra a gravidade e nada natural, os profissionais não devem apenas concordar já que é um parto humanizado, mas sim, orientar esta mulher que existem formas melhores para que o bebê nasça e para seu conforto. É um exemplo bem esdrúxulo, mas é para começar a entender.

Exemplificando

Um exemplo real que já vi é de o profissional atualizado não querer fazer o corte no períneo da mulher (episiotomia), mas ela querer por acreditar que é o melhor. Hoje em dia esse corte está sendo menos realizado, ou ao menos feito com algum critério, pois as evidências científicas já mostram que não há necessidade para fazê-lo rotineiramente (em todas as mulheres). Assim, o profissional que entende que ele não é necessário por estar se baseando nas melhores evidências científicas, estará sendo humanizado ao não fazê-lo, mesmo que a mulher queira. Ele deve conversar com esta mulher para que ela entenda que isto é o melhor para ela e se sinta acolhida.

Uma boa maneira de ter suas vontades e necessidades respeitadas durante o parto é elaborando um Plano de Parto e conversando com a equipe que irá te atender (caso você já saiba previamente).

Então, o Parto Humanizado é um parto onde se respeitam as vontades da mulher ao mesmo tempo que respeita as melhores evidências científicas. 

Assim, a mulher deve decidir o que ela quer para o seu parto se baseando em informações de qualidade (que ela pode adquirir pesquisando e conversando com o(s) profissional(is) que está(ão) acompanhando sua gestação – obstetra, enfermeira, doula). Aos profissionais cabe acolher aquele desejo e garantir que ele aconteça dentro das possibilidades, sempre estando atento ao bem estar da mãe e do bebê. Caso seja necessário mudar de rumo durante o processo (para garantir a segurança da dupla mãe-bebê), a equipe conversa com a mulher para a tomada de decisão. A mulher se sentirá acolhida, entendendo que o melhor está sendo feito para ela e seu bebê. 

Um exemplo que pode ser usado aqui é o da mulher optar que o bebê vá direto para seu colo após o nascimento (contato pele a pele), porém, o obstetra e/ou o pediatra que estão atendendo percebem que o bebê precisa de algumas manobras para ficar bem, então se decide por atender este bebê primeiramente para que quando ele estiver bem ele possa ficar com sua mãe. Mas, o bebê nascendo bem, irá para o colinho da sua mãe, sem nenhum problema.

Concluindo

O parto humanizado pode ocorrer em qualquer ambiente, podendo ser na em casa (parto domiciliar planejado), no hospital, numa casa de parto… O local propriamente do nascimento do bebê pode ser na banheira, na banqueta de parto, na cama hospitalar… Qualquer opção que a mulher escolha e que seja segura! 

É comum que o parto humanizado tenha pouquíssimas intervenções, o importante é ter em mente que cada uma delas deve ser feita de acordo com a necessidade da mãe e do bebê naquele momento. 

É importante que a mulher se informe e tenha confiança na equipe que irá atendê-la para que ela possa ter um parto com respeito e se sentir satisfeita com sua experiência.

Olhando desse jeito, todo parto deveria ser humanizado, com todas mulheres e famílias entendendo seus benefícios, sendo respeitadas durante o processo, tendo intervenções realizadas apenas de acordo com a necessidade, e não de maneira rotineira como ocorre por aí, e no final sentir-se satisfeita com a experiência, ao invés de humilhada ou maltratada. 

O que é uma doula?

A doula é uma mulher que apoia outra mulher durante o momento tão transformador que é o parto.

Diferente do que muitas pessoas acreditam, doula não é a mesma coisa que as parteiras tradicionais. Doulas recebem treinamento sobre como é um parto normal e, principalmente, sobre formas de fornecer suporte físico emocional para a mulher durante a gestação, parto e até no pós parto.

O principal papel da doula é de estar acompanhando aquela determinada mulher e família oferecendo apoio emocional, sem obrigações técnicas, como fazer qualquer exame ou “fazer o parto” (mesmo porque, quem faz o parto é a mulher).

Em termos modernos, podemos dizer que a doula é uma “coach de parto”, embora eu espero que esse termo não se popularize…

Quem pode ser doula?

Para ser doula é necessário fazer um curso livre. Não há necessidade de ter alguma formação específica, embora seja muito comum doulas formadas na área da saúde (como fisioterapeutas e enfermeiras). 

Os cursos variam muito em seu tempo de duração, e ensinam sobre a fisiologia do parto e formas de ajudar a mulher a controlar a dor que ela pode sentir durante o parto. Assim, a doula será capaz de orientar a mulher e família durante a gestação para que ela possa escolher sobre a equipe que vai acompanhá-la, local do parto, formas não farmacológicas para o alívio da dor, etc.

É comum também que a doula seja uma mulher que teve uma experiência ruim no seu parto, e após se informar decidiu ajudar outras mulheres para que não sofram o mesmo que ela sofreu.

Vale a pena?

Para a mulher que está buscando um parto normal respeitoso, vale muito a pena!

Existem vários estudos que mostram que o trabalho de doulas ajuda a prevenir uma cesárea, diminuem o uso de anestesia (já que as mulheres ficam mais confortáveis durante o parto e acabam não solicitando), e melhora a satisfação da mulher com a experiência do parto (o que ao meu ver é um dos melhores benefícios).

Ter alguém com que você possa contar durante esse momento tão importante que é o nascimento do seu filho faz com que a experiência seja muito mais positiva!

Vira e mexe quando estou conversando com um grupo de pessoas, sempre que me perguntam o que eu faço, todos acham muito lindo mas a conversa se desenrola para “como as mulheres aguentam ficar tanto tempo em trabalho de parto, sofrendo” e por aí vai…

Existe um senso comum de que o parto normal é muito demorado, e quando as pessoas falam de demorar, estão falando de apenas 7-8 horas, e o parto pode durar mais que isso.

Também, o tempo que o parto leva não deveria ser uma questão tão grande, já que é um processo em que o corpo da mulher está se modificando (se abrindo) para poder parir o bebê e também vai se posicionando (descendo e rodando) para poder nascer. Obviamente que esse processo leva um tempo.

Então, é interessante saber que o tempo que o trabalho de parto e parto vai durar depende de diversas variáveis, como posição do bebê, tamanho do bebê, se é o 1º ou 2º (ou mais) filho que esta mulher está parindo, se esta mulher está tensa ou se está sendo acolhida… Esse tempo do trabalho de parto é longo, e pode durar 10-12 horas em média.

Se todo mundo soubesse disso, seria possível alinhar as expectativas com a realidade.

Sabendo que existem muitas variáveis para se pensar o tempo que uma mulher vai passar em trabalho de parto, é possível descrever  como esse processo é de uma maneira generalizada.

Didaticamente, é possível dividir o parto em: pródromos, fase latente, fase ativa, nascimento. Lembrando mais uma vez, que as descrições a seguir estão generalizadas!

Pródromos

Antecedem o trabalho de parto. São contrações leves, curtas (30 segundos) e espaçadas (a cada 20-30 min). Mas não engrenam…. Hora aparecem, e a mulher acha que vai acontecer, e então param de vez. Pode acontecer por alguns dias antes do início do trabalho de parto. 

Aqui é como se fosse o aquecimento para o corpo da mulher e também para o bebê, pois nesse momento o bebê pode encaixar na pelve (quadril) da mãe. Também pode ter uma dilatação pequena do colo do útero.

Nessa fase, a mulher sente as contrações, mas por elas serem leves, ela consegue continuar suas atividades.

Fase latente

Aqui o trabalho de parto já está começando, mas as contrações ainda são leves, curtas e espaçadas, mas elas já não param mais. A mulher pode tomar um banho relaxante, às vezes até uma medicação de cólica, mas as contrações continuam vindo. Elas são progressivas, então cada vez vão ficando mais próximas uma das outras (a cada 8-10 min), mais longas (40-60 segundos) e mais intensas também.

Geralmente a mulher ainda está tranquila, fica mais quieta durante as contrações, mas entre elas consegue conversar e fazer outras coisas. 

Essa é geralmente a fase mais longa e aqui a mulher pode ficar em casa aguardando as contrações ficarem mais intensas, caso desejar.

Aqui a dilatação pode ir até uns 5-6cm.

Fase ativa

Pensando em um parto hospitalar, essa é a hora de ir para a maternidade.

Aqui as contrações se tornam mais intensas, mais próximas uma da outra (pelo menos a cada 5 min chegando a ficar a cada 1 minuto) e duram entre 50-70 segundos. A mulher já está mais introspectiva durante e entre as contrações, e muitas vezes não quer saber de conversar não…

Essa fase costuma ser a mais intensa, mas também a mais rápida, e a mulher vai dilatar totalmente aqui, os tais 10 cm.

Quando chega na dilatação total, pode ser que o trabalho de parto dê uma pausa de alguns minutos até que a mulher sinta vontade de fazer força, ou então já entra na próxima fase.

Nascimento

Aquí é o parto propriamente dito. A mulher sente vontade de fazer força para o seu bebê nascer. As contrações ficam um pouco mais espaçadas, mas continuam longas e intensas. Até que o bebê nasça!

MAS….

O parto não acabou ainda, pois depois que o bebê nasce, ainda há o nascimento da placenta (a casinha do bebê). Mas, nesse meio tempo, a mãe pode e deve já estar com seu bebê no colo, cheirando, aconchegando, amando e até mesmo amamentando se o bebê já mostrar disposição. 

Após nascer a placenta (é preciso que a mulher tb faça uma força para ela nascer), acaba o parto. Mas é necessário que os profissionais fiquem atentos à mãe para saber que está tudo bem.

Todo esse processo leva tempo, seja paciente

Como foi possível perceber, é um processo longo mesmo, e ele leva um tempo geralmente. É preciso ser paciente e entender que é assim mesmo, para que a expectativa seja realista.

Já atendi casos totalmente fora desse padrão, tanto para mais quanto para menos tempo. Lembro de uma mãe que falou que leu tanto e estava esperando cada uma dessas fases, e quando o trabalho de parto começou já na fase ativa ela não acreditava, pois estava esperando algo mais lento. 

Muitas mães de primeira viagem, como nunca passaram pela experiência, têm dúvida se vão saber o que está acontecendo. A resposta padrão dos profissionais é: VOCÊ VAI SABER!

E de fato, a mulher vai saber que seu corpo está mudando.

Não teve uma que eu conheça que ficou na dúvida, mesmo que tenha percebido o parto já na fase ativa mesmo.

Entender o parto como um processo normal do nosso corpo faz com que fiquemos mais seguras para que seja tudo mais tranquilo.

Então a experiência fica mais satisfatória, mesmo que haja dor. Isso porque dor é diferente de sofrimento, e quando a mulher que vai parir entende isso, ela compreende que ficar horas em trabalho de parto não é a mesma coisa que ficar horas em sofrimento, como se fosse alguma doença, pois sabe que é seu corpo parindo seu bebê, e pronto.

Quando o parto normal é escolhido, o medo da dor é algo que deixa muitas mulheres ainda receosas, mesmo que se tenha a possibilidade de usar anestesia. Mas, é importante saber que antes da anestesia é possível lançar mão de outras maneiras de aliviar a dor do parto. Usando esses outros métodos, se aproveita da mobilidade da mulher para ajudar na progressão do parto. 

Alguns desses métodos são: presença de um acompanhante, liberdade para se movimentar, uso da bola de pilates, massagem, uso do rebozo, TENS, técnicas de respiração, compressas quentes/frias, banho no chuveiro, banho de imersão e até mesmo a hipnose.

Além de aliviar a dor dor, estes métodos promovem relaxamento, reduzem a ansiedade, e diminuem a chance de usar medicamentos sem necessidade. 

Abaixo, segue uma breve descrição de alguns deles.

Hipnose

A hipnose é uma técnica simples onde o hipnotista guia a pessoa hipnotizada para que ela possa alcançar alguns objetivos. 

Nada mais é do que a pessoa que ACEITA ser hipnotizada (CONFIANDO no hipnotista) poder se livrar da dor física naquele momento (pensando no parto) ou se LIBERTAR dos medos que bloqueiam sua mente e, consequentemente, paralisam sua vida.

Na assistência obstétrica a gente pode usar durante a gestação para preparar a mulher para o parto e mesmo durante o parto, para que ela relaxe e a dor não seja percebida. 

É um método que está aumentando sua difusão aqui no Brasil, e vale a pena entender para poder usar sem medo para o parto e até para outras questões como ansiedade, traumas, medos… 

TENS

TENS é uma sigla em inglês para “Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea”. É um aparelhinho que usa uma corrente elétrica de baixa potência para ajudar no controle da dor. 

Pode ser usado para diversas dores, inclusive é muito utilizado por fisioterapeutas. Pode ser que você mesma já tenha feito alguma vez em alguma sessão de fisioterapia. 

No seu uso no parto, seus eletrodos são colocados nas costas da mulher para que esse choquinho ajude a diminuir a dor e também a percepção dela. É mais eficiente quando utilizada já nos primeiros sinais trabalho de parto, e ir aumentando a intensidade de acordo com a necessidade. Alguns estudos sugerem que ele ajuda a diminuir o desconforto da dor do parto sem interferir no andamento do processo, como a anestesia pode fazer.

Não é um método muito conhecido e precisa de um aparelho específico.

Chuveiro

Durante o banho no chuveiro a mulher pode ficar em pé ou sentada, em uma posição que se sinta confortável, deixando a água cair pelo seu corpo. 

A água quente em si ajuda na redistribuição do fluxo sanguíneo, promovendo o relaxamento dos músculos. Dessa forma, ocorre a redução dos hormônios do estresse (catecolaminas) e, consequentemente o aumento dos hormônios do prazer/relaxamento (endorfinas) que também são anestésicos naturais do nosso corpo.

Como a sensação das contrações começam na região lombar, a água quente batendo nesta região age também como uma massagem durante as contrações. É um recurso muito simples, que ajuda bastante no alívio da dor e também na progressão do parto, já que a posição que a mulher fica geralmente é em pé ou sentada.

Banheira

O mecanismo de ação da imersão na água durante o trabalho de parto é o mesmo do chuveiro, com a diferença de que na banheira é possível estar com uma parte maior do corpo em contato com a água, e também de ser possível da mulher achar posições mais relaxantes, podendo descansar mais. 

A água quente em si ajuda na redistribuição do fluxo sanguíneo, promovendo o relaxamento da musculatura. Dessa forma, ocorre a redução dos hormônios do estresse (catecolaminas) e, consequentemente o aumento dos hormônios do prazer/relaxamento (endorfinas). As evidências científicas mostram que a imersão em água durante a fase de dilatação reduz de forma significativa a necessidade de analgesia peridural/raqui, sem afetar negativamente a duração do trabalho de parto, a taxa de parto cirúrgico, ou o bem-estar do bebê. É uma opção também simples que pode ser escolhida pela mulher nos locais onde há essa possibilidade.

Rebozo

O Rebozo é um xale de origem mexicana, muito usado na assistência obstétrica por enfermeiras, obstetrizes, parteiras e doulas. Pode ser usado ainda na gestação para massagens e técnicas de relaxamento. 

No parto ele se torna um grande aliado da mulher. Ele pode ser amarrado em algum lugar fixo para que a mulher possa puxá-lo ou se apoiar nele, pode ser usado como manta para cobrir em um momento de frio, como um apoio para a cabeça, e até mesmo em partos rápidos para manter o bebê que nascer no carro aquecido… 

Durante o trabalho de parto, ele pode ser envolvido na barriga da mãe ou no bumbum, por exemplo, e a pessoa que está auxiliando a mulher vai puxá-lo para aliviar o peso da barriga ou então dar uma “sacudida” de leve, que ajuda a relaxar a musculatura e, consequentemente, alivia a dor. 

Outro artifício simples, que pode ser substituído por lençóis ou toalhas.

Bola Suíça e Cavalinho

A Bola Suíça e o Cavalinho são dois instrumentos muito utilizados durante o parto, disponível em diversos hospitais. Ambos permitem que a mulher adote diversas posições e movimentos, além de promover posições verticalizadas, que contribuem para a progressão do parto. 

Ao ter a possibilidade de escolher e mudar de posição, a mulher consegue encontrar maior conforto, o que ajuda a amenizar sua dor. 

Conclusão

Ainda existem muitos outros métodos não farmacológicos para alívio da dor, como a simples presença de um acompanhante, que trás segurança e conforto, massagens, aromaterapia, musicoterapia, cromoterapia, e por aí vai…. 

Como foi possível ver, esses métodos envolvem no geral baixo custo. 

Ainda falta conhecimento das mulheres e famílias sobre eles e também dos profissionais que trabalham nessa área.

O conhecimento sobre esses métodos e também sobre o processo do parto já são em si um método para ajudar na fluidez do parto, no alívio da dor e também a confiar na capacidade do corpo de parir.

Afinal, o parto é um processo fisiológico do nosso corpo, como respirar ou digerir. Em condições favoráveis vai acontecer como foi programado em nosso DNA.

Isso significa que ele vai levar algumas horas para isso, e tudo bem!Precisamos entender que isso é o normal do nosso corpo para evitar intervenções desnecessária que muitas vezes são feitas apenas por rotina.